Passarinho é um poema de Deus. Deus é poeta, você sabia?
Que você faça deste ano que está pra acabar, um lugar doce
onde canta o sabiá
Que o próximo ano não seja à toa, à toa como os dias das
andorinhas
E sim que ele seja guiado pela trilha sonora de pardaizinhos
cantando à toa
Porque as coisas ruins, passarão. As boas, passarinho.
Passarinho em aplique de tecido
Inspirações:
Frase 1: autoria de Fernando Sabino
Frases 2, 3, 4 e 5: alusão aos poemas de, respectivamente:
Gonçalves Dias, Manuel
Bandeira, Galldino Octopus e Mario Quintana.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Lolô,
Certa
vez você escreveu:
“Ma
que bela criatura, linda linda
Cria
e costura...”
Hoje,
descobri esse quadro de Renoir. O pai dele era alfaiate, e sua mãe era costureira. Seu nome? Marguerite.
Renoir disse certa vez:
“Numa manhã, um de nós já não tinha preto, e assim
nasceu o Impressionismo.”
Não seria fantástico se todos nós acordássemos em
certa manhã, livres de todas as nossas escuridões, como rebentos destinados a
coisas Impressionantes?
Um grafo é uma representação gráfica das relações
existentes entre elementos de dados. Eles podem ser utilizados para representar diversos problemas
ou objetos, mas nenhuma fonte cita que eles podem ser utilizados para
representar poemas...
Mas Drummond me
inspira, e aí está “Quadrilha”, em forma de grafo:
Quadrilha (Carlos Drummond de Andrade)
João
amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Clique na figura para ampliar)
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
(Estadão)
Poesia é para ser explicada?
(Djavan) Não se explica não. Poesia é
para ver, ouvir, imaginar.
Neguinho quer ficar satisfeito apenas lendo. Não dá.
Poesia é
estado de espírito e não está para todos. Poesia é pra sentir.
"No meio
do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra".
(No meio do caminho, de Carlos Drummond
de Andrade)
Creio que
esse poema do Drummond seja um dos mais criticados pelo mundo afora, mas
Drummond é um gênio, e nem todos os gênios são compreendidos...
Se
pararmos para refletir, poderemos encontrar centenas de interpretações para a
palavra “pedra”.
Listarei
apenas 6 interpretações, e deixo para cada um decidir qual foi a espécie de
“pedra” que estava no meio do caminho do Drummond.
1)Para começar, um trecho de Arnaldo Antunes, no
qual Pedra tem sinônimo de cérebro, para que abramos nossas mentes:
“Todos eles traziam sacolas, que pareciam muito
pesadas. Amarraram bem seus cavalos e um
deles adiantou-se em direção a uma rocha e gritou: “Abre-te, cérebro!”.
(Trecho do livro
As coisas, de Arnaldo Antunes)
2)A Pedra como sinônimo de imponência, liberdade, refúgio, encontro e
caminho para o Belo:
“Me
resolvi por subir na pedramais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra
mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto
Sereia
bonita sentada na pedra mais alta
Tô pensando em me jogar de cima da pedra
mais alta
(...)
O medo
fica maior de cima da pedra mais
alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra
mais alta
(...)
Tudo fica confuso de cima da pedra
mais alta
(...)
De cima da pedra não se fala em
horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra
(...)
Quero teu
sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra
mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira em minha metade de volta”.
(A
pedra mais alta, d’O Teatro Mágico)
3)A Pedra como sinônimo de fé:
“A Pedra de Ouro é um dos locais mais
importantes para a peregrinação e oração budista. Seu equilíbrio precário é uma
maravilha da fé e, diz a lenda, que a pedra
é mantida equilibrada no lugar por um único fio de cabelo do Buda.”
(A Pedra de Ouro, Kyaiktiyo, Myanmar (Birmânia).
Foto: Steve McCurry).
4)A Pedra como uma metáfora para descrever o
sentimento de perda:
“A prata depois
de anos preteja. Assim é a prata.
A pedra quando afunda turva a água. Assim
é a perda.”
(Trecho do livro
As coisas, de Arnaldo Antunes)
5)A Pedra como sinônimo de trilha para algo bom:
“Se fosse fácil achar o caminho das pedras...
Tantas pedras no caminho não seria ruim”
(Outras
frequências, dos Engenheiros do Hawaii)
6)A Pedra como sinônimo da terrível urbanização:
“Eu aprendi
A vida é um jogo
Cada um por si
E Deus contra todos
Você vai morrer
E não vai pro céu
É bom aprender
A vida é cruel...
Homem
Primata
Capitalismo Selvagem
Oh! Oh! Oh!
Eu me
perdi
Na selva de pedra
Eu me perdi
Eu me perdi...”
(Homem Primata, dos Titãs)
Para
finalizar, algumas definições de “pedra” segundo o dicionário Houaiss (em
destaque as com bolinha em azul):
Com
formas indefinidas, embaçadas, fazendo você imaginar o que quiser.
Assim
que o Simbolismo é.
Igual
quando você diz "adeus" pra alguém e fica olhando a pessoa se distanciar,
distanciar, ficando longe, pequenininha, até se tornar uma mancha confusa,
indistinta.
Assim
que a distância é.
Ou
como o seu pretérito, e as coisas que aconteceram nele. Suas lembranças,
memórias, saudades...
“Qual o prazo de validade das
lembranças?” perguntara Érico Veríssimo.
“E qual o prazo de validade dos sonhos?”
poderia qualquer um se perguntar.
Creio que os sonhos surgem como uma
faísca e reluzem aguardando a realização. Caso ela não venha, a luz não se
apaga, fica acesa em uma paciente fila de espera.
Os sonhos não têm prazo de validade.
Os sonhos não envelhecem.
É como se eles fizessem parte da Terra
do Nunca.
Eles nascem e vivem com a mesma
vitalidade do primeiro suspiro.
E não morrem. Eles dependem de você para
nascer, mas não para morrer.
Você poderá viver por muitos e muitos
anos, mas aquele seu sonho sonhado há muito tempo atrás, continuará no seu
âmago.
Lá na rua em que
eu pensava,tinha uma
livraria bem do lado da
farmácia. Todo mundo ia à
farmácia comprar frascos
de saúde. E depois ia do
lado, para comprar a
liberdade.
***
E,
desde já, anuncio o tratamento
Sem
contraindicação: Coquetel
de palavras organizadas esteticamente Soro de
imagens da alma Posologia:
três vezes ao dia Enquanto
durar a insatisfação.
(O
1° trecho em itálico é o poema “A farmácia
e a livraria”, de Pedro Bandeira. O
2° trecho em itálico é parte do poema “Anorexia”, de Laura Mota).
Inspirações poéticas, filosóficas,
literárias e musicais sobre essas coisas tão contraditórias...
“Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada”.
(Trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector)
***
“Todas as coisas do mundo não cabem numa
ideia. Mas tudo cabe numa palavra, nesta palavra tudo.”
(Trecho do livro As coisas, de Arnaldo Antunes)
***
“És como um pássaro que eu subjugo, como um
pão
Que eu mastigo, como uma secreta fonte entreaberta
Em que bebo, como um resto de nuvem
Sobre que me repouso. Mas nada
Consegue arrancar-te à tua obstinação
Em ser, fora de mim - e eu sofro, amada
De não me seres mais. Mas tudo é nada.”
(Trecho
do poema O amor dos homens, de
Vinicius de Moraes)
***
“O tudo
é uma coisa só.”
(Nome de uma das músicas d’O Teatro Mágico)
***
“Na
verdade nada
É uma palavra esperando tradução.”
(Trecho
da música Piano Bar, dos Engenheiros
do Hawaii)
***
“Spinoza achava que todas as coisas
físicas que nos cercam ou que acontecem à nossa volta são manifestações de
Deus, ou natureza. O mesmo vale para todos os pensamentos que são pensados.
Assim, todos os pensamentos que são pensados também são pensamentos de Deus, ou
natureza. Pois tudo é uma coisa só. Tudo
é um.”
“Podemos ser levados a experimentar, de
forma pura e cristalina, o fato de que tudo está relacionado; o fato de que tudo
é um. Nosso objetivo é abarcar, num único
golpe de vista, tudo o que existe. Spinoza chamava isto de ver as coisas sub specie aeternitatis.
- E o que significa isto? - Significa ver as coisas sob a perspectiva
da eternidade.” (Trechos
de O mundo de Sofia, de Jostein
Gaarder)
Inspirações poéticas, sociológicas e musicais sobre o "Trabalho", em homenagem ao seu dia:
“E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.”
(Trecho de O
operário em construção, de Vinicius de Moraes)
***
“Para A. Marshall, a
verdadeira distinção do homem que trabalha, em contraste com o nobre, não seria
o fato de trabalhar, nem o fato de trabalhar com as mãos, tampouco o fato de
ser assalariado ou de estar sujeito à disciplina superior. O que o distinguiria
seria o efeito do trabalho sobre ele. Portanto, sua preocupação era com a
brutalização do homem, ele acreditava que em uma sociedade avançada todo homem
poderia ser um cavalheiro.”
(Trecho de A atualidade de T. H. Marshall no estudo da
cidadania no Brasil, de Lea Guimarães Souki).
***
“O metrô
parou
O metro aumentou
Tenho medo de termômetro
Tenho
medo de altura
Tenho altura de um metro e tanto
Me mato pra não morrer
Minha
condição, minha condução
Meu minuto de silêncio
Meus minutos mal somados
Sadomasoquismo são
Meu
trabalho mais que forçado
Morrendo comigo na mão
Pra
dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com aquilo que fomos
E com aquilo que somos nós”
(O Mérito e o Monstro d’O Teatro Mágico)
domingo, 8 de abril de 2012
Naquela cidade morava gente pequena.
Gente que tinha medo da fala, gente que acatava o vento.
Gente que, por medo da bagunça e de tudo o que poderia acontecer depois, preferia a organização.
Os que conseguiam se soltar das amarras da amarga cidade, caíam no mundo: “Mundo Vasto Mundo”.
E, na porta de entrada do “Mundo Vasto Mundo” havia uma inscrição que simplesmente deixavam boquiabertos os que ali chegavam:
“Faz o que tu queres
Pois é tudo da lei”
E eles silenciavam. Pois a gente é do tamanho daquilo que a gente pensa.
Inspirações:
Peça teatral “Menor que o mundo”, baseada na obra de Drummond.
Sociedade Alternativa (Raul Seixas).
quarta-feira, 28 de março de 2012
“E eu morrendo devagar, em silêncio, pelo caminho, entre uma esquina e outra.
Se você achar meu coração perdido pela cidade, devolva-me.”
Retirado do blog do espetáculo “Música para cortar os pulsos”.
Uma das coisas mais belas e marcantes que já presenciei.
Acordada, parou em frente à janela grandona – vulgo ‘varanda’ – e olhou para o céu. Viu o sol nascendo lá longe, mas tão perto...
Sua luz invadiu a sala, o quarto e a alma.
Deu às paredes a cor dada às laranjas. Cor de laranja.
Mas em cima da mesa havia um vaso com lírios laranjas, e a cor dada às paredes então não mais era cor de laranja, e sim a cor dada aos lírios. Cor de lírio. Acordada, viu a cor sendo dada às cortinas, lençóis, almofadas... E desenhos dourados foram se solidificando, depois se liquefazendo e se vaporizando pelos cantos da casa.
Por um momento se perguntou se realmente estava acordada, ou se tudo aquilo era delírio. É que a cor dada aos lírios, a cor de lírio, é surrealmente linda.
É linda a cor de lírio. Um delírio.
Inspirações:
Anitelli Colcha de Retalhos (Galldino Octopus)
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar... (Alphonsus de Guimaraens)
Inspirações:
Aulas remotas sobre o Simbolismo, o episódio do “Tudo o que é sólido”, amigos, e principalmente, minhas poetisas preferidas: meninas de lua, de brilho, de luz.
Mas, como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer?
Antes do “Era uma vez...” já havia uma princesa, um sapo e uma bruxa; antes do homem havia o medo, antes do medo o amor, antes do amor a dúvida; antes do circo já havia a piada pintada em cada curva do rosto do pobre palhaço...
Contudo, não nos esqueçamos de que ainda é tempo de sol nascendo e brilhando alto.
Sim.
Inspirações:
A hora da estrela (Clarice Lispector) A primeira semana (O Teatro Mágico) Eu não sei na verdade quem eu sou (O Teatro Mágico)