segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Da vez primeira em que me assassinaram, Quintana estava lá



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Eu lembro muito bem dos dias nos quais eu descobri que não havia passado nos vestibulares que eu almejava. Eram dias frios, chuvosos, geava dentro e fora de casa.

Em um desses dias, eu saí do cursinho e rumei para a biblioteca do meu bairro. Passei a tarde lendo poesia e em dado momento me deparei com estes versos de Mario Quintana. O golpe foi certeiro, impiedoso e eu chorei. Peguei uma folha de papel, transcrevi a poesia e guardei comigo. Nunca mais li Quintana.

Cinco anos depois, eu estava na biblioteca da minha faculdade lendo um livro do... Quintana. A leitura estava tranquila, não me remetia a nada de ruim, até que eu cheguei nesta fatídica página. A leitura da primeira linha foi o suficiente para me fazer regressar àquela época. A cada verso lido, eu sentia como se eu estivesse desenterrando uma oração que outrora fora decorada, usada em algum momento lúgubre e depois esquecida. Naquele momento a poesia ressurgiu como um fantasma, e eu chorei de novo... pela aspereza dos versos, das lembranças e da certeza de que sim, quando não dói a ferida, dói a cicatriz.


Pra quem tá de fora como espectador, pode parecer bobagem essa coisa de vestibular, mas não é. Só quem vivencia isso sabe o quão desesperador pode ser essa fase da vida. Isso passa, claro, assim como todo ciclo, embora nos falte essa certeza enquanto passamos por esse período. Porém, as marcas ficam... E como! Tanto as boas como as ruins, encobertas ou não.