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Eu lembro muito bem dos dias nos quais eu descobri que não
havia passado nos vestibulares que eu almejava. Eram dias frios, chuvosos,
geava dentro e fora de casa.
Em um desses dias, eu saí do cursinho e rumei para a
biblioteca do meu bairro. Passei a tarde lendo poesia e em dado momento me
deparei com estes versos de Mario Quintana. O golpe foi certeiro, impiedoso e
eu chorei. Peguei uma folha de papel, transcrevi a poesia e guardei comigo. Nunca
mais li Quintana.
Cinco anos depois, eu estava na biblioteca da minha
faculdade lendo um livro do... Quintana. A leitura estava tranquila, não me
remetia a nada de ruim, até que eu cheguei nesta fatídica página. A leitura da
primeira linha foi o suficiente para me fazer regressar àquela época. A cada
verso lido, eu sentia como se eu estivesse desenterrando uma oração que outrora
fora decorada, usada em algum momento lúgubre e depois esquecida. Naquele momento
a poesia ressurgiu como um fantasma, e eu chorei de novo... pela aspereza dos
versos, das lembranças e da certeza de que sim, quando não dói a ferida, dói a
cicatriz.
Pra quem tá de fora como espectador, pode parecer bobagem
essa coisa de vestibular, mas não é. Só quem vivencia isso sabe o quão desesperador pode
ser essa fase da vida. Isso passa, claro, assim como todo ciclo, embora nos
falte essa certeza enquanto passamos por esse período. Porém, as marcas ficam...
E como! Tanto as boas como as ruins, encobertas ou não.