quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Querida professora Isabel,


Provavelmente a senhora nunca lerá esta carta, até porque nos vimos pela última vez há uma década e você nem sequer saberá quem eu sou.  Mas eu quero deixar registrado que aquela sua aula de artes na qual a senhora levou um quadro do Botticelli, nunca saiu da minha memória. 
Quando por acaso eu vejo O Nascimento de Vênus, eu revivo aquela aula como se tivesse sido ontem. Eu amo esse quadro não pela beleza que ele tem. Mas sim por tudo que ele me remete: às aulas de artes que eram as minhas preferidas, à sua voz que era um afago, e ao azul dos seus olhos que tinham uma pureza líquida. E tu tinhas uns cabelos grisalhos que carregavam uma sabedoria dos séculos...
Tenho tido notícias de algumas pessoas que dividiram comigo aquela aula. Hoje, somos crianças crescidas e continuamos felizes, embora eu desconfie que o colorido dos nossos dias seja um pouco desbotado se comparado ao arco-íris dos lápis de cor que outrora transbordavam dos nossos estojos.
Sim... As coisas mudam, é natural. Mas Vênus continuará nascendo para sempre, num eterno gerúndio. E para mim, Botticelli sempre será sinônimo de Isabel.


Com afeto,
            Marina.
(dezembro/2013)
                                                                                                                                      


"O Nascimento de Vênus" de Sandro Botticelli.