domingo, 12 de abril de 2020

sobre "Me chame pelo seu nome" ou sobre como partir o coração com um livro

A trilha sonora que tocou na minha cabeça enquanto eu lia “Me chame pelo seu nome”, começou com “Exagerado” na voz de Cazuza, e terminou com a cortante “Você não me ensinou a te esquecer” na voz de Caetano Veloso. 
É essa atmosfera intensa que permeia a narrativa.
Sinestésica do início ao fim, é impossível sair ileso da história. Há pelo menos 10 anos um livro não me impactava tanto - a ponto de me fazer chorar. Em suas páginas finais, a leitura prosseguiu em doses homeopáticas, porque primeiro eu precisava aprender a me despedir do livro (e pelo jeito eu não aprendi, porque já li dois livros depois dele, e a história ainda está na minha cabeça, ressoando por todos os cantos).
A escrita poética e fluida do autor, os cenários cinematográficos e os personagens apaixonantes constroem um livro que deixa saudade. O Elio é um desses personagens que a gente lamenta o fato de não serem reais. Inteligente, cheio de vida e sensível, ele seria uma pessoa com quem eu passaria tardes inteiras conversando sobre a vida. Na biblioteca do meu coração, Elio está ali, na estante de amores literários, ao lado de Ricardo* e Ulisses**. 
Jovial, despudorado, ricamente construído com referências literárias, filosóficas e artísticas, ainda me trouxe à lembrança, em vários momentos, algo que amo muito: a história e os personagens do livro “Música para cortar os pulsos”.
“Me chame pelo seu nome” é, acima de tudo, uma história de amor - um amor que nunca morre. É também sobre o medo - ou a coragem - de ser quem se é. E, meu Deus, como não? é uma história de partir o coração. Tô costurando os pedaços do meu até agora.

* Ricardo é personagem do livro “Música para cortar os pulsos”, do Rafael Gomes.
** Ulisses é personagem do livro “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, da Clarice Lispector. Preciso reler o livro pra saber se Ulisses continua sendo Ulisses.


Livro versus filme

Ao contrário do livro, o filme é fraco. Que todo livro é melhor que o filme e que não dá pra construir um filme totalmente fiel ao livro, a gente já sabe. Mas esta adaptação falhou em pontos cruciais, dando margem a interpretações totalmente diferentes das descritas no livro. 
Os personagens chegaram a ficar rasos, algumas passagens ficaram sem sentido e sobraram várias pontas soltas. 
De positivo, destaco a trilha sonora e os atores, que são ótimos. 
Mesmo sofrendo de desgosto, não teve jeito: passei os minutos finais do filme chorando correntezas. Vou parar por aqui senão choro de novo. 


Trailer do filme.


Para a Marina do futuro:
Me chame pelo seu nome (André Aciman)
Recomendo? Sim.
Leria de novo? Sim.
Leria outra obra do mesmo autor? Sim.

Página sobre o livro no catálogo da editora:
https://www.intrinseca.com.br/livro/805/


Este foi meu primeiro texto pessoal e público após meses de trabalho (de verdade) diário com textos. É de liberdade a sensação de poder escrever errado e sem culpa.


Março de 2020.