Naquela
noite, a missão do pobre soldado-equilibrista era percorrer um caminho
com pesadas malas nas costas e em uma das mãos um pires com uma
cadeirinha de madeira.
Ele era equilibrista por um simples
motivo: o caminho a ser percorrido não era em chão firme, mas sim
através de cadeiras. Ele deveria ir pulando de cadeira em cadeira, sem
cair e sem deixar as malas e o pires com a cadeirinha caírem. Quando
chegasse ao fim do caminho com tudo intacto, ele cumpriria
sua missão.
E assim ele foi: com os cabelos molhados de suor,
os olhos translúcidos fixos no pires, o rosto petrificado de tanta
angústia. O caminho foi tortuoso, e quando o soldado chegou na última
cadeira do percurso sem ter caído e sem ter derrubado nada, ele abriu um
sorriso angelical e seus olhos brilharam. Foi aí que a cadeirinha de
madeira caiu do pires. E o diamante dos seus olhos se liquefez, e ele
chorou. Havia sido derrotado.
E eu fiquei pensando nas
malas que carregamos todos os dias, nas cadeirinhas que temos que
equilibrar, nos caminhos difíceis que temos que percorrer e no
sacrifício que fazemos pra realizar tudo isso, sendo que muitas vezes o
resultado é nulo. A gente nada um oceano pra morrer na praia.
Eu sei que a vida depende do otimismo e das energias que mentalizamos.
Ainda assim, é preciso que esteja claro que na vida há caminhos que não se acessam, pessoas que não ficam e sonhos que não se realizam.
Ainda assim, é preciso que esteja claro que na vida há caminhos que não se acessam, pessoas que não ficam e sonhos que não se realizam.
Inspiração:
Espetáculo teatral "Só", do grupo Sobrevento.