segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sobre a dança das cadeiras que nos derruba todos os dias

Naquela noite, a missão do pobre soldado-equilibrista era percorrer um caminho com pesadas malas nas costas e em uma das mãos um pires com uma cadeirinha de madeira.
Ele era equilibrista por um simples motivo: o caminho a ser percorrido não era em chão firme, mas sim através de cadeiras. Ele deveria ir pulando de cadeira em cadeira, sem cair e sem deixar as malas e o pires com a cadeirinha caírem. Quando chegasse ao fim do caminho com tudo intacto, ele cumpriria sua missão.
E assim ele foi: com os cabelos molhados de suor, os olhos translúcidos fixos no pires, o rosto petrificado de tanta angústia. O caminho foi tortuoso, e quando o soldado chegou na última cadeira do percurso sem ter caído e sem ter derrubado nada, ele abriu um sorriso angelical e seus olhos brilharam. Foi aí que a cadeirinha de madeira caiu do pires. E o diamante dos seus olhos se liquefez, e ele chorou. Havia sido derrotado. 

E eu fiquei pensando nas malas que carregamos todos os dias, nas cadeirinhas que temos que equilibrar, nos caminhos difíceis que temos que percorrer e no sacrifício que fazemos pra realizar tudo isso, sendo que muitas vezes o resultado é nulo. A gente nada um oceano pra morrer na praia.  

Eu sei que a vida depende do otimismo e das energias que mentalizamos.
Ainda assim, é preciso que esteja claro que na vida há caminhos que não se acessam, pessoas que não ficam e sonhos que não se realizam.
 
 
Inspiração:
Espetáculo teatral "Só", do grupo Sobrevento.