domingo, 18 de abril de 2021

Júbilo, memória, noviciado da paixão, por Hilda Hilst

    Quando eu começo a leitura de um livro de poesia, é isso que eu espero: que ele seja avassalador, assim como foi esse livro da Hilda Hilst. 

    “Júbilo, memória, noviciado da paixão” foi o meu primeiro contato com a Hilda, embora o meu flerte com ela venha de anos.

    A sensação que eu tive enquanto eu lia o livro é que eu estava em contato com o meu tipo preferido de poesia. A leitura foi um encontro, uma comunhão entre a Marina e o que ela ama ler. E isso é tão raro, que quando acontece é digno de ser celebrado.

    O livro reúne poemas que constroem uma devoção ao amor, à pessoa amada, ao romantismo, à poesia e à palavra escrita. É uma entrega e um derramamento desnudados e despudorados aos sentimentos. 

    Não é uma poesia morna, como a poesia do Bráulio, ou uma anti-poesia, como a da Ana C.* É a poesia em seu estado sólido, puro, pleno, genuíno, potente. Foi para ler esse livro que eu aprendi a gostar de poesia, antes mesmo de saber disso. 

    E é curiosa a maneira pela qual essas experiências influenciam as nossas experiências futuras. Estou lendo um livro de poesia de outro autor, e não é que seja ruim, mas o fato é que está longe de ter o “padrão devastador Hilda Hilst de qualidade”. Afinal, se não for pra ler uma poesia que me deixe com a cara no chão, eu nem vou**.

    Nesta edição graciosa da Companhia das Letras, a capa é em tons de vermelho e traz um coração estampado. E isso faz todo sentido: a poesia da Hilda constrói o mapa do seu coração, propiciando uma experiência pungente, pulsante, sanguínea, visceral. 

    E agora, o meu coração é um território da Hilda também.


*isso não é uma crítica, é apenas uma comparação de acordo com as minhas preferências. Falei mais sobre o Bráulio aqui, e sobre a Ana C. aqui.

** mentira, vou sim.


  Junho/2020-Abril/2021.










Hilda foi a homenageada na Flip de 2018. Eu não participei da Flip, mas tirei essa foto em Paraty, no fim desse mesmo ano.