sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Pedra de Drummond

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra".
(No meio do caminho, de Carlos Drummond de Andrade)


Creio que esse poema do Drummond seja um dos mais criticados pelo mundo afora, mas Drummond é um gênio, e nem todos os gênios são compreendidos...
Se pararmos para refletir, poderemos encontrar centenas de interpretações para a palavra “pedra”.
Listarei apenas 6 interpretações, e deixo para cada um decidir qual foi a espécie de “pedra” que estava no meio do caminho do Drummond.


1)       Para começar, um trecho de Arnaldo Antunes, no qual Pedra tem sinônimo de cérebro, para que abramos nossas mentes:
“Todos eles traziam sacolas, que pareciam muito pesadas. Amarraram bem seus cavalos e um deles adiantou-se em direção a uma rocha e gritou: “Abre-te, cérebro!”.
(Trecho do livro As coisas, de Arnaldo Antunes)


2)      A Pedra como sinônimo de imponência, liberdade, refúgio, encontro e caminho para o Belo:

“Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
Tô pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
(...)

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
(...)
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta

(...)
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra

(...)

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira em minha metade de volta”.

(A pedra mais alta, d’O Teatro Mágico)



3)      A Pedra como sinônimo de fé:


“A Pedra de Ouro é um dos locais mais importantes para a peregrinação e oração budista. Seu equilíbrio precário é uma maravilha da fé e, diz a lenda, que a pedra é mantida equilibrada no lugar por um único fio de cabelo do Buda.”

(A Pedra de Ouro, Kyaiktiyo, Myanmar (Birmânia). Foto: Steve McCurry).
4)      A Pedra como uma metáfora para descrever o sentimento de perda:
“A prata depois de anos preteja. Assim é a prata.
 A pedra quando afunda turva a água. Assim é a perda.”
(Trecho do livro As coisas, de Arnaldo Antunes)
5)      A Pedra como sinônimo de trilha para algo bom:
“Se fosse fácil achar o caminho das pedras...
 Tantas pedras no caminho não seria ruim”
(Outras frequências, dos Engenheiros do Hawaii)
6)      A Pedra como sinônimo da terrível urbanização:
“Eu aprendi
A vida é um jogo
Cada um por si
E Deus contra todos
Você vai morrer
E não vai pro céu
É bom aprender
A vida é cruel...
Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Oh! Oh! Oh!
Eu me perdi
Na selva de pedra
Eu me perdi
Eu me perdi...”
(Homem Primata, dos Titãs)
Para finalizar, algumas definições de “pedra” segundo o dicionário Houaiss (em destaque as com bolinha em azul):

2 comentários:

  1. O que seria pior, uma pedra no meio do caminho,ou uma pedra no sapato?
    Acho que nenhum é ruim, pense. O que Drummond faria se tivesse uma pedra no sapato e uma no caminho? -Na verdade, não sei... Mas quanto a mim, usaria a pedra no sapato como pretexto para libertar os meus pés e escalaria a pedra no meio do caminho para encontrar meus sonhos visíveis, de cima da pedra mais alta eu me enxergaria, eu medo teria, eu apenas seria de cima do rígido o ser sensível...


    (Nina)
    É nina... acho que meu cérebro rochoso rachou ou eu e você somos doidas de PEDRA?
    Parabéns, ficou linda a sua análise.

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    Respostas
    1. Cris, você é a pedra mais rara do mundo! Diamante com rubi, esmeralda, ouro, sei lá... mas é!!
      Nossos cérebros rochosos racham - paronomásia linda!! - a todo instante, afinal, aprendemos com a poesia que a loucura é necessária para se ver além do visível... além do mais, Sêneca já dizia: “A POESIA É A INSÂNIA”.
      E quanto a mim, eu usaria a pedra no sapato para acertar na cabeça rochosa de todos aqueles que falam com ironia: “Nossa, Drummond foi realmente um gênio ao dizer que no meio do caminho tinha uma pedra, tinha pedra no meio do caminho...”
      Drummond é um engenheiro que constrói com suas pedrinhas a poesia nossa de cada dia...
      Obrigada pelo comentário!
      bjs

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